Tortura... A palavra está no nome de uma das
bandas mais respeitas e tradicionais do Metal nacional o: Torture Squad. Esta
mesma palavra é a que sintetiza o período negativo de (quase) 21 anos de
duração (entre 1964 a 1985) do Regime Militar também ou mais conhecido como
“Ditadura Militar”. Muitos sofreram com a opressão dos militares. Os
sobreviventes dos combates e perseguições ou filhos destes vivem com as marcas
até hoje. Alguns querem esquecer esta época, mas o Torture Squad não. O Brasil
passou por problemas internos, mas mesmo assim conseguiu supera-los. Assim
também foi com a banda. Em janeiro de 2011, o guitarrista Augusto Lopes sai e é
substituído por André Evaristo. Porém, em abril de 2012, foi a vez do vocalista
Vitor Rodrigues se desvincular. Isso após 19 anos no posto. O que poderia ser
um grande problema para o Torture serviu para se reinventarem. De quarteto
passaram para trio com Evaristo utilizando vocal rasgado Thrash Metal e o
baixista Castor com o vocal gutural do Death Metal. O baterista Amilcar
Christófaro fecha a formação. “Esquadrão de Tortura” foi lançado em 15 de
novembro de 2013 (dia da proclamação da república). É o primeiro álbum
conceitual do grupo e fala sobre o tempo sombrio na qual o país passou sob o
comando dos militares no poder. Amilcar e Castor em entrevista a revista Roadie
Crew (ed. 180 – janeiro de 2014) afirmaram que a ideia deste lançamento é a de
levarem este tema tão importante, principalmente, para aqueles que não o
conhecem muito só que através da música.
A pesquisa para a construção da parte
lírica contou com a ajuda de entrevistas com historiadores e até uma visita ao
DOI-CODI (um prédio do exército para onde levados e torturados os “inimigos do
Estado”) de São Paulo e que hoje é o Museu da Resistência em homenagem àqueles
perseguidos e mortos naqueles anos por obra do governo. O retrato do período já
pode ser visto pela capa. As diferentes
cruzes representam que ninguém estava a salvo. A águia evidencia a influência
do governo americano no Golpe de 64. O jornal mostra a data e as velas na
contracapa é homenagem aos que faleceram, além arte ser toda em verde-escuro a
cor dos militares. Como um todo, devido ao estilo de Evaristo, o Thrash Metal é
o foco, enquanto o Death vocalicamente foi quase eclipsado. As “boas vindas”
são dadas na abertura com o anúncio: “Não há escapatória no inferno!”. A letra
tenta passar o clima de incerteza que se apresentava em 1964 com a retirada do
presidente Jango do poder. Os militares tentando tranquilizar a população com
mentiras de “pacificação”. O favorecimento de certo grupos que manipulavam a
massa como a elite e mídia, além da influência do “Tio Sam”. Direitos
revogados, atos institucionais... “No Escape From Hell” transcreve os primeiros choques das mudanças ocorridas em um Thrash
veloz, riff memorável e refrão grudento, além de paradinhas para bater cabeça:
“Military times. Arrived. A better era coming? Nobody knows./ Tempos
Militares. Chegaram. Um era melhor vindo? Ninguém sabe.”
A repressão do
Estado está em “Pull the Trigger”. A desculpa contra todos os abusos era a guerra contra o “perigo
vermelho” dos comunistas. A hierarquia dos fardados eliminava qualquer um que
se colocava como opositor. O ápice dos anos de chumbo foi 1968 que recebeu a
alcunha de “o ano que nunca acabou”. Marcos como a queda do Congresso
estudantil em Ibiúna e o assassinato de Edson Luiz também são citados. Uma
faixa pesada e de levada viciante que leva até o refrão foi feito para ser
gritado. Também há partes mais cadenciadas: “Restore the discipline. And military hierarchy. Against the communist threat. It’s part of the excuse. About all the abuse.
Upon all who oppose them./ Restaurar a
disciplina. E a hierarquia militar. Contra a ameaça comunista. É parte da
desculpa. Sobre todos os abusos.”
Já “Pátria Livre” inicialmente teria uma letra, mas, em seguida,
resolveram deixa-la instrumental. Mas as claras influências de Hardcore
inspiraram a ideia de convidarem João Gordo (vocalista do Ratos de Porão) para
cantar um trecho da carta escrita por Carlos Marighella contra o próprio
partido por não concordar com a postura deste diante da ditadura. Marighella,
além de político era guerrilheiro e poeta: “O
dever do povo e de todo cidadão. É fazer revolução pelas próprias mãos.
Conquistando o poder pela violência. Trocando o imperialismo pelo povo armado!
Pátria livre!” O cenário de guerra entre estudantes e militares nas ruas é
mostrado em “Wardance”. Bombas, molotovs, rifles, cães, pedras, explosões,
infiltrações de espiões... Sonoramente há uma notória diferença. O peso está
presente, mas a cadencia ocupa o lugar da velocidade. Mas o destaque mesmo fica
para o solo e pós também bem melodioso e até acessível. Esta parte foi criação
do ex-guitarrista Augusto Lopes. Quando a banda resolveu usar este trecho,
chamou o próprio Augusto para grava-lo. Além disso, também tem trechos com
blast-beats que fazem lembrar o Black Metal do Dimmu Borgir: “Shock troops push the crowd into the
streets. Hundreds of students
burn police cars. Soldiers with machine guns. Massacre on bandeiras square./ Tropa de Choque enfrenta
a multidão nas ruas. Centenas de estudantes queimam carros da polícia. Soldados
com armas de fogo. Massacre na Praça da Bandeira.”
A introdução de “Architecture of Pain” é o discurso do
então ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva anunciando o AI-5. Ato
institucional que dava plenos poderes ao governo para cassar políticos
opositores do regime militar, aposentar compulsoriamente professores com ideais
de esquerda,
além de validar medidas mais repressivas: The ai-5 arises. And violence starts to bloom. “Just
to prevent the disintegration of the regime”. We’re here to keep the order is
what they say. Order and progress!/
O AI-5 surge. E a violência começa a florescer. "Apenas para evitar a
desintegração do regime". Estamos aqui para manter a ordem é o que eles
dizem. Ordem e progresso!” A faixa seguinte, “Never
Surrender” começa com coro, passa para um intro com blast beats ao melhor
estilo metal extremo. A música em si não é tão rápida, porém. O solo é
melódico, mas o que chama atenção é a bela e triste melodia ao final. Fala da
força da população na luta pela liberdade: “Many
are joining now. Defend our country, defend our town. Looking for the best for brasil. Hail democracy!/
Muitos estão se unindo agora. Defender o nosso país, defender nossa cidade.
Procurando o melhor para Brasil. Salve a democracia!”
Já “In The Slaughterhouse” altera momentos
de velocidade e lentidão. A guitarra dá tons melódicos, principalmente, no
solo. A letra revela parte dos métodos de tortura utilizados pelos militares: “In the
slaughterhouse. Say or die. Dragon’s chair. Sit on a zinc plate. High voltage tearing
your body./ No matadouro. Diga ou morrer. Cadeira do dragão. Sente-se em uma
placa de zinco. Alta tensão rasgando seu corpo.” “Conspiracy of Silence” começa uma introdução longa e deprimida. Tudo muda com o grito de
“revolution!” gritado em coro. O peso e a velocidade do Thrash vem, mas...
Pouco depois, o som fica cadenciado. Também há, novamente, toques de Black
Metal. Fala sobre a vontade libertária e revolucionária que guiava vários
militantes contra o governo: “Revolutionary
militants. And a few more peasants. The small against the big. The poor against the
rich. Chinese and cuban revolutions./ Militantes revolucionários. E mais alguns camponeses. O pequeno contra o grande. Os pobres contra os
ricos. Revoluções chinesa e cubana.”
Após várias
músicas mais longas, “Nothing to Declare” segue a linha do
Thrash rápido, mas nem por isso
menos melódica e em uma faixa mais curta. Destaque para o bom solo. É sobre os
presos e torturados que se mantinham em silêncio nos depoimentos para os
militares: “You hide your crimes behind a
curtain of silence. But the time for you to pay is coming…/ Você esconde seus
crimes atrás de uma cortina de silêncio. Mas o tempo para você pagar está
chegando...” Curta, densa e dramática devido ao uso de violinos é “For The Countless Dead”. Cantada em
inglês e português por dois diferentes narradores: “Every story has two sides. The good and bad. The truth and lies. A
supposed security./ Toda história tem dois lados O
bom e o mal. As verdades e as mentiras. Uma suposta segurança.”
“Fear To the World” começa com poucos
acordes e vai crescendo... A guitarra surge trazendo a melodia, depois vem o
atabaque, a bateria e por fim a rapidez do Thrash Metal. O refrão foi feito
para se cantar junto ao vivo. Ainda tem a bônus “A Soul in Hell”. Regravação da original da própria banda que saiu
no debut “Shevering” em 1995 e de
letra dura contra o fanatismo religioso: “Fanatic
for religion. Alone with holy images. She consumes eagerly. Gospels and prayers./ Fanática pela
religião. Sozinha com imagens santas. Ela consume ávida. Evangelhos e orações.” Mesmo com a mudança
na sonoridade (focado mais no Thrash Metal) e a mudança na formação, os fãs, de
modo geral, aprovaram o álbum. Os pontos negativos levantados, porém, voltam-se
justamente ao vocal de Evaristo.
Em um ano tão marcante como foi 2013 com as
maiores manifestações públicas da população brasileira desde o movimento Diretas
Já, “Esquadrão da Morte” revela os horrores de um período da história do pais,
mas que não pode ser esquecido. Todo cidadão deveria conhecer mais sobre política.
Afinal, este dever evitaria escolhas ignorantes nas eleições, convicções políticas
infames, revolta e etc. Ao se conhecer os erros do passado há mais chances de não
repeti-los no presente e futuro como, por exemplo, a mentira cultivada até hoje
da implantação da “Ditadura Comunista” levantada pela direita fascista ou o pedido de intervenção militar... Intervenção militar!? O
Torture Squad está de parabéns por ter a criatividade e a vontade de trabalhar
com este assunto. O tema política pode ser tortuoso para muitos... Mas a maior
tortura de uma nação (como a nossa) é viver alimentado pela ignorância de
informações levianas publicadas por um mídia reacionária e manipuladora (escute
e leia a letra “Chaos Corporation”).
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3- Pátria Livre
4- Wardance
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Nota do álbum. |
Banda: Torture Squad
Ano: 2013
Álbum de estúdio nº 7
Gravadora: Substancial Music
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